Entrevista a Eugénio Bezerra

1. Em três linhas, apresente-nos a sua biografia.

Chamo-me Eugénio Bezerra, sou natural de Santo Tirso, casado e tenho 2 filhos. Sou docente do 3º Ciclo e Secundário do quadro do Agrupamento de Escolas Padre Benjamim Salgado, em Joane, desde 1991. Neste momento não me encontro a lecionar e dedico-me quase exclusivamente aos estudos (sou estudante da FMUP - Faculdade de Medicina do Porto), à semelhança de vocês, estimados amigos "Viajantes da Leitura".

2. O que o conduziu às primeiras leituras?

Todos nós enquanto leitores temos a nossa história. É frequente, muitos de nós guardarmos nas memórias de infância momentos em que os nossos pais ou outros adultos nos liam livros e nos contavam histórias maravilhosas. Gostaria que a minha história fosse semelhante. Infelizmente, comigo não foi assim. Venho de uma família quase que totalmente alheia à Literatura. Nunca recebi incentivos para ler, conhecer os clássicos, etc. Às vezes, penso e não compreendo como me tornei leitor (um leitor voraz) e o que me conduziu às primeiras leituras. Sei apenas que ler é para mim uma verdadeira paixão. Recordo que antes de me ter apropriado da leitura alfabética, quando só a escrita pictográfica fazia parte do meu reportório, me deliciar a "ler" e a "viajar" através das imagens. E como era feliz.

3. Que influência teve a escola na promoção e desenvolvimento do seu gosto pela leitura?

Quando ingressei na escola primária já gostava imenso de livros. Nessa altura, como referi anteriormente, apenas "lia" através das imagens e intrigava-me não saber exatamente o que significavam os símbolos dentro dos balões que enchiam os desenhos animados do Astérix e afins. A escola foi fundamental neste âmbito, ajudou-me a decifrar os referidos símbolos ao ensinar-me a ler e, deste modo, presenteou-me com um segundo nível de lucidade ao mesmo tempo que incrementou ainda mais o meu gosto por livros e, consequentemente, pela leitura.

4. Como se define enquanto leitor?

Em duas palavras apenas: compulsivo/voraz.

Para mim ler é um prazer necessário à vida. É um ir mais além, um princípio sem fim, é uma paixão que não se pode traduzir por palavras, pois os livros confundem-se e fundem-se com os sentidos (com os meus sentidos).

Não obstante ter adquirido uma maturidade razoável para ler vários tipos de livros não me considero um leitor completo. Penso que nunca serei um leitor completo. Haverá sempre livros para ler e para me deleitar, haverá sempre um estrada por percorrer, algo para descobrir, num qualquer livro à espera para ser lido.

Um leitor verdadeiro nunca está satisfeito com o que já leu; antes, vislumbra em cada livro uma porta aberta para o seu crescimento pessoal e intelectual.

Talvez o meu retrato enquanto leitor não seja o mais convencional, mas é o meu. Foi este o caminho que percorri, foi esta a matriz a partir do qual fundei os alicerces da minha paixão pela leitura e pelos livros, sem preconceitos ou tabus, sem limitações de conteúdos ou estilos, sem imposições ou obrigações, apenas...pelos livros e só pelos livros.

5. Qual foi o último livro que leu?

Por prazer: A Morte de Ivan Ilitch de Lev Tolstoi e por dever profissional: Epidemiology: an introduction de Kenneth Rothman.

6. Deixe uma mensagem de incentivo aos nossos jovens leitores.

Para finalizar e parafraseando o falecido Steve Jobs no seu célebre discurso aos estudantes na Universidade de Stanford, em 2005, " Permaneçam famintos. Permaneçam tolos. Foi o que eu sempre desejei para mim mesmo. E é o que desejo para vocês ...". Esta também é a mensagem que quero deixar para vocês estimados amigos "Viajantes da Leitura". Ousem, mantenham-se famintos dos prazeres da leitura e dos livros, mantenham-se tolos, pois se só os tolos amam os livros e a leitura, então desejo-vos que permaneçam tolos para toda a vida. Se só os famintos e os tolos acreditam nesta mensagem, sejamos famintos e tolos e deixemos o desprazer de não ler para os saciados e para os sopitados.